O que é Economia Criativa e como ela pode transformar o mundo?
Por Laura Artigas, em colaboração para o FFW
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Modelos no camarim de Ronaldo Fraga, que nesta coleção, trabalhou com uma Cooperativa do Pará ©Sergio Caddah/Ag. Fotosite |
A temporada Verão 2012/2013 do São Paulo
Fashion Week acontece em meio ao Rio + 20. Enquanto líderes políticos e
a sociedade civil discutem os rumos do meio ambiente e fazem um balanço
do que foi feito em relação à saúde do planeta desde a Eco 92, a semana
de moda paulistana propõe a discussão da economia criativa. Afinal, o
que é essa tal economia criativa? Qual sua relação com o meio ambiente?
Por que ela é tão importante para o desenvolvimento do país?
O estilista Ronaldo Fraga acumula
experiência no assunto e alerta enfaticamente: “Não se trata de um
trabalho assistencialista. Envolve a transformação do olhar da
comunidade, a capacitação profissional, e a apropriação da técnica e da
matéria prima”, resume. Em seu desfile para o Verão 2013
ele trouxe o resultado da economia criativa. Os acessórios vistos na
passarela foram feitos com sementes de árvores nativas da Amazônia e com
restos de madeira de lei, confeccionados por meio da técnica de
marchetaria e desenvolvidos em parceria com a Cooperativa de Bijóias de
Tucumã no Pará.
Para Ronaldo, Economia Criativa = Cultura (sementes e mão de obra das artesãs do Pará) + Economia (os produtos produzidos pelas mulheres são produtos passíveis de comercialização em lojas) + tecnologia/inovação (o conhecimento de Ronaldo Fraga resignifica a matéria prima e a técnica e injeta valor agregado) + sustentabilidade
(usar a matéria prima da Amazônia de modo consciente, e reciclar
material que seria descartado). “É a nossa única saída. A indústria está
migrando para a Ásia. É urgente. E a China já está investindo pesado em
escolas de design”, adverte.
Voltando um pouco no tempo, o Reino
Unido foi um dos primeiros países que entendeu o potencial da economia
criativa para o seu desenvolvimento e criou um plano de ação. Em 1997 o
então primeiro ministro britânico Tony Blair convocou representantes do
governo de diversos setores e, sob o slogan “Creative Britain”, foram
adotadas medidas que estimulavam iniciativas criativas e inovadoras
capazes de gerar renda, emprego e ramificar para outras atividades como
prestação de serviços.![]() | ||
Cestas criadas por artesãos de Várzea Queimada, no Piauí, em parceria com o projeto A Gente Transforma ©Felipe Abe / FFW |
Graça Cabral, diretora da Luminosidade,
explica por que o São Paulo Fashion Week é considerado um exemplo de
economia criativa. “O SPFW transformou a cadeia produtiva da moda e
movimenta a economia da cidade, seja por meio de turismo, de eventos, e
dos negócios fechados em função de sua existência. A moda é o carro
chefe da economia criativa no Brasil”, constata. No caso, trata-se de
uma equação mais complexa que envolve vários elementos, e cujos
resultados não são tão explícitos quanto uma venda direta ao consumidor.
E é aí que mora a dificuldade.
“Ainda há uma lacuna na educação do
país. Os criativos acham que não precisam entender de gestão, e os que
entendem de negócios costumam não valorizam o trabalho criativo. É
preciso uma mudança de comportamento nas duas direções para haver
resultados a longo prazo”, explica Graça.
A Economia Criativa já é uma realidade,
ainda que os próprios empreendedores não se reconheçam como tal, por
puro desconhecimento do conceito. Entre as micro e pequenas empresas
auxiliadas pelo SEBRAE, estão incubadoras da economia criativa. Para
Juliana Borges, coordenadora da carteira de moda da instituição, o
Brasil tem uma vocação natural para a integração do saber popular com a
moda, a exemplo da experiência de Ronaldo Fraga. “Tempos que entender as
necessidades do consumidor de moda atingido pelo SPFW. E, no caso
específico das empresas que envolvem artesanato, tirar o ranço
folclórico dos produtos”. Entre as principais dificuldades para o
desenvolvimento estão obtenção de crédito, acesso a matéria prima em
menor quantidade e questões relativas a marketing, como criação e
posicionamento da empresa como marca.
O empresário Nelson Alvarenga, fundador
da Ellus, é um dos que apostou na Economia Criativa, sem saber, e teve
êxito. Ele conta que o nome da grife deriva da palavra “elo”, da ideia
do trabalho em conjunto e da união entre os jovens. “Começamos fazendo
camisetas em uma escola abandonada no Rio de Janeiro. Havia um
sentimento comum de querer quebrar regras e paradigmas”, relembra. Já
marca de sucesso, a grife criou o projeto Ellus 2nd Floor para abraçar
novos estilistas.
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Alguns acessórios usados no desfile de Ronaldo Fraga ©Juliana Knobel / FFW |
A editora de moda Erika Palomino
acredita que há um caminho muito longo para ser percorrido. “Ainda não
entendemos o potencial da Economia Criativa. Há muitas possibilidades.
Entre tantos esforços, é preciso formação para pequenos empresários”,
ensina.
Do outro lado, o do cliente, a história
não é diferente. “O consumidor não se dá conta do poder da Economia
Criativa, e ainda não tem noção do conceito. Ainda há muita
informalidade neste mercado”, explica a editora de moda e apresentadora
do GNT Fashion Lilian Pacce.
O São Paulo Fashion Week plantou a
semente e quer germinar de forma efetiva a Economia Criativa no
imaginário do mundo da moda, e do país. Daqui pra frente, vale queimar
uns neurônios pensando em soluções criativas, inovadoras, capazes de
gerar renda direta ou indireta, além de experiências de consumo
interessantes e sustentáveis. Aí mora o futuro.
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